Quando questionados sobre o que mais nos aflige atualmente, o tema segurança costuma figurar entre os mais indicados. Não por acaso, essa deverá ser uma das prioridades da agenda do próximo presidente, seja quem for.
Se analisarmos a situação do país, encontraremos uma série de problemas em todos os setores: economia, saúde, infraestrutura, educação, transporte, sustentabilidade. Certamente, todos muito importantes, mas por que a segurança ocupa uma atenção especial?
Inicialmente, vale lembrar que tudo deságua na segurança: legislação inadequada, desemprego, educação ruim, transporte ruim, política inadequada, comunicação de massa nefasta…
Também não podemos esquecer que a polícia não é a primeira instância de controle em relação ao delito. Juntamente com Ministério Público e o Poder Judiciário, ela faz parte dos mecanismos formais de controle da sociedade. Antes deles, porém, existem os mecanismos informais a saber: família, escola, Igreja, comunidade, legislação…
Para sabermos a real dimensão do problema, devemos nos perguntar: em que exatamente a insegurança pode interferir? Não é pouca coisa:
– no empreendedorismo;
– no valor dos aluguéis de imóveis;
– nos seguros de veículos, de residência, de transporte de carga, de saúde, de estabelecimentos comerciais;
– nos afastamentos médicos por ocorrências em que haja emprego de violência;
– nos afastamentos médicos por problemas psicológicos relacionados ao estresse da vida urbana (síndrome do pânico, depressão…);
– na perda de vidas promissoras;
– no esfacelamento familiar;
– no encarecimento do custo de vida;
– na falta de investimentos externos num país em que haja predominância de insegurança pública, jurídica, financeira, aumentando o chamado risco-país.
– na falta de investimentos no campo, devido ao risco iminente às propriedades rurais;
Enfim, são muitas as consequências. Talvez, trazendo para o plano mais tangível ao cidadão comum, sem muita elucubração, pudéssemos resumir tudo ao dizer que não queremos ser assaltados num ponto de ônibus às 6 horas da manhã por dois bandidos numa motocicleta, nem em frente à garagem ao sairmos com o carro. Não queremos ter nossos telefones celulares e demais pertences subtraídos em plena luz do dia. Queremos poder abrir a janela do veículo e sentir o vento no rosto, queremos dormir com a certeza de que nossos filhos voltarão vivos da escola, de que eles não serão sequestrados, roubados ou mortos por uma famigerada bala perdida.
Será muito isso que desejamos? Será que não merecemos?
Ao longo desses anos, lidando com esse tema todos os dias, pudemos aprender que segurança se faz dentro de um trinômio: homem, educação e equipamento.
Podemos dizer que educação, num sentido lato, envolve aspectos formais (treinamento técnico-policial, educação institucional, acadêmica) e informais (educação de berço, aquisição individual de cultura, experiência…). É importantíssimo esse primeiro elemento do trinômio.
Em seguida, passamos ao equipamento. Podemos destacar tudo que envolve a proteção individual (colete, capacete, calçado, uniforme), também o armamento que faça frente ao poderio do crime, a tecnologia relacionada à inteligência policial… Também importantíssimo.
Por fim, o homem (é evidente que nos referimos ao gênero humano). Pouco adianta investimento massivo em viaturas, equipamentos, tecnologia, armamento se não dedicarmos especial atenção ao mais importante: o ser humano.
É fato que nossos operadores de segurança se sentem desvalorizados, desrespeitados em suas necessidades básicas, não se sentem acolhidos pelo Estado e, muitas vezes, nem pela sociedade. Damos muito pouco a esse profissional que, como nenhum outro de que se saiba, hipoteca diariamente sua vida em prol de terceiros.
Tudo que aflige o cidadão comum costuma se potencializar no caso do cidadão em armas.
Morar em uma comunidade onde o crime esteja presente é muito difícil para qualquer pessoa, mas para o policial é ainda pior, porque sua identidade pode ser sua sentença de morte.
Imaginemos, por exemplo, um policial militar que tenha de secar seu uniforme às escondidas para não ter sua residência marcada por criminosos.
Esse mesmo policial militar, quando trabalhando em município diverso daquele onde mora, precisa se locomover fardado pela questão do custo dos transportes. Sua jornada de trabalho costuma ser de 12 horas ou mais, quando as ocorrências podem demandar várias horas após o turno ordinário de serviço. Depois de tudo isso, ainda tem de se sujeitar a uma viagem interminável na volta para casa fardado, portanto ainda em serviço, sob os olhares de todos que o circundam, atento à sua segurança e à de todos, quando seus reflexos já estão prejudicados pela fadiga.
Não seria possível pensarmos em programas especiais de aquisição de moradia para esses profissionais? Não seria possível um bilhete, um cartão de transporte que lhes permitisse viajar em condições mais confortáveis no regresso a suas casas, condições mais dignas?
Enfim, muito se pode fazer no oferecimento de dignidade aos nossos heróis anônimos do dia a dia. Talvez falte apenas vontade política, vontade que devemos cobrar de quem se oferece como representante, como nosso mandatário.
Já é tempo de mudarmos nossa atitude.
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