Durante os anos que estive no serviço ativo da Polícia Militar do Estado de São Paulo, foram eleitos diversos governadores com as mais diversas maneiras de administrar o Estado e consequentemente as Forças de Segurança Pública, que tinham que se adaptar as novas diretrizes que cada governador impunha.
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Durante minha trajetória na Polícia Militar do Estado de São Paulo, era muito comum me deparar com jovens adolescentes que me procuravam com brilho nos olhos, para falar de seus sonhos em se tornarem policiais.
Faziam perguntas e ficavam encantados com as histórias que eu lhes contava, percebia o quanto acendia em seus corações o sonho de se tornarem heróis.
O tempo foi passando e pude ver muitos desses jovens orgulhosos e vibrantes, ostentando suas fardas que a partir daquele momento, seriam a sua segunda pele. Eram tempos de muita emoção e um sentimento de fazer parte de algumas histórias que ali se iniciariam.
Aquela farda que vestíamos ao sair de casa, toda asseada e com aquele sorriso no rosto, nos despedíamos dos nossos pais, esposa, marido, filhos e seguíamos para a nossa missão que era cumprida com devoção sacerdotal.
Servir e Proteger, mesmo com o sacrifício da própria vida, soava até com um tom que nos faziam diferentes.
O sistema foi mudando, mas engajados em nossas missões diárias, não nos demos conta do quanto estava se tornando hostil, nosso esforço já não era visto como antes, percebemos o crescente número de irmãos de armas tombando em combate, mas sempre havia uma maneira para ser visto apenas como mais um caso isolado, até que em 2003 a guerra foi declarada sem que nos avisassem.
Posteriormente em 2006 e em 2013, vivemos períodos sombrios e de incertezas. Vimos os papéis sendo invertidos a cada ataque e tudo que ouvíamos era um silêncio estarrecedor do Poder Público.
Facções criminosas tomaram conta do Estado e passaram a nos caçar e atacar covardemente em nossas folgas, na frente de nossas famílias e até durante o trabalho, impunham toques de recolher ao cidadão, mas não recuamos, pois havia uma promessa a ser cumprida e o cidadão coagido, precisava de nossa proteção.
Foi então que percebemos que era uma guerra desigual e que o Estado que representamos estava sob ataque e os governantes que deveriam nos amparar, permaneceram nesse silêncio gritante, nos relegando a própria sorte.
Perdemos tantos irmãos, tantas lágrimas, tantas famílias desamparadas, tantos filhos que cresceram sem os pais, ou quantos pais enterraram seus filhos e o que nos restava era um ao outro.
Hoje, enquanto Parlamentar, consegui ter uma visão mais ampla e pude perceber o quanto esse silêncio é perturbador na vida do ser humano policial e de seus familiares, o sofrimento individual daqueles que se feriram em serviço e foram impedidos de trabalhar e não tem qualquer amparo, os que tombaram no cumprimento do dever ou em razão de ser um policial e o quanto muitos esquecem que abaixo da farda, existe um Pai, uma Mãe, um Irmão, um Filho, um Marido, uma esposa e essencialmente, um ser humano.
Tenho fé em Deus que um dia chegaremos à evolução de agradecer e honrar aqueles que vão em direção, de onde todos fogem, enfrentam o perigo em defesa do cidadão, creio que vamos conseguir olhar por suas famílias, pois eles estão sempre a proteger as nossas.
Que Deus ouça as nossas orações.
Poucos dias atrás, a Jovem Pan deu ênfase a uma informação triste: que “de janeiro de 2020 a abril de 2021, a Polícia Militar de São Paulo aprovou 1.647 licenças por transtorno mental … uma média de 102 licenças por mês. As doenças que mais afastaram policiais da ativa foram depressão, transtorno misto ansioso e depressivo”. Da mesma forma, além desse número que por si só é impressionante, chama a atenção que dados somente são conseguidos por intermédio da Lei de Acesso à Informação, tão como existem muitos policiais que não conseguem seus afastamentos, mesmo quando precisam.
Há um “termômetro” excelente que utilizo com minha equipe: o volume de mensagens que recebo com pedidos, sugestões de projetos, solicitações para que eu faça intervenções etc. Cobram-me (e acho correto) para que tome medidas, quer sejam políticas, jurídicas ou legislativas a respeito dos absurdos cometidos por um desgoverno. São irreais, levianas, hipócritas, para muitos paulistas honestos, as prioridades (como destinar dinheiro para publicidade ao invés da saúde) e posturas medíocres do chefe do Poder Executivo.
Estava hoje lendo uma reportagem onde a Polícia Civil, em um trabalho primoroso de inteligência, conseguiu atingir simultaneamente vários alvos. Foi um baque tremendo no patrimônio de criminosos e pessoas que lavavam dinheiro para o crime organizado.
Um país desenvolvido jamais se esquece dos seus heróis ou deixa de homenagear pessoas que acabam por tornarem-se eternas devido aos seus atos, trabalho, vida ou opiniões. São seres humanos que inspiram outros seres humanos e, também, pilares de referência de valores e do que norteia aquela sociedade que os recorda e aplaude.
Um conjunto de erros, comportamentos inadequados e uma tragédia foram pauta das notícias na semana passada. Um homem com extensa ficha criminal, com vasto histórico de comportamentos violentos, ao causar problemas e fazer o que lhe é, aparentemente, rotineiro (arrumar confusão) foi colocado para fora de um estabelecimento comercial por seguranças. Na saída, aproveitou para agredir um desses mesmos seguranças de forma violenta e totalmente desnecessária. Foi contido e agredido por pessoas que não possuem a mínima capacitação técnica e emocional para atuarem nessa área, o que resultou na trágica morte dele.
Essa tragédia foi logo usada por diversas pessoas que alegaram, sob a incoerente e totalmente inverídica retórica, como exemplo de crime de motivação racial. Ocorreu um crime, pois uma vida foi estupidamente ceifada, isto deve ser apurado e, os autores, devem ser julgados e punidos. A vítima não foi morta por causa da cor de sua pele. Foi morta por pessoas que não possuem qualificação qualquer para o cargo de segurança, mas que a retiraram do estabelecimento pelo comportamento da vítima (que também deu um violento soco em um de seus algozes, o que motivou a agressão desmedida posterior).
Imediatamente a retórica racial veio. Aproveitadores, por sua linha ideológica, resolveram insuflar protestos, que na verdade foram atos de vandalismo e outros crimes. A imagem de uma funcionária, apagando um princípio de incêndio, também ficou famosa. De uma hora para outra, a vítima, cuja vida não era um primor de conduta, tornou-se um símbolo de luta contra o racismo.
É estranho quando uma jovem pobre, negra, homossexual, nascida e criada em uma comunidade de periferia, foi também assassinada e não tenha sido lembrada antes. Seria a pauta perfeita para a retórica desse tipo de grupo de vândalos e aproveitadores. Mas essa jovem era uma Policial Militar, arrebatada, torturada e assassinada em uma comunidade de São Paulo. Então não serviu para eles. Da mesma forma, vários outros seres humanos, não somente vítimas, mas pessoas cujas vidas ou ações são dignas, antes esquecidas, felizmente agora não são mais.
Temos vários brasileiros, referência no que há de melhor para inspirar-nos. Combatendo o nazismo e o fascismo (de verdade, não falando do que não sabe em rede social) Marcilio Luiz Pinto foi um Cabo que recebeu a medalha Silver Star (Estrela de Prata), por ação distinta, quando integrava a Força Expedicionária Brasileira.
Herói, com incrível coragem! Mas pouquíssimos conheciam esse exemplo de abnegação e luta antes da Fundação Cultural Palmares (e seu atual presidente, Sr. Sérgio Camargo) mencionar. Esse “pracinha” ocupa merecidamente o “hall” das pessoas que nos inspiram e hoje seu nome se encontra honrosamente citado na Fundação. João do Pulo! Excepcional atleta que tanto nos trouxe orgulho! Quantos de nós não ficávamos boquiabertos com seu desempenho, humildade e esforço. Também, quantas vezes rimos da irreverência do grande Antônio Carlos Bernardes Gomes e seu personagem Mussum, artista que deixou saudades, como também deixou nossos dias (ou noites) mais felizes. Todos seres humanos fantásticos!
A ideologia arraigada em parte da sociedade, em alguns grupos (principalmente do tipo que ateou fogo e depredou o estabelecimento comercial semana passada, “protestando” contra o racismo) também é a mesma que considerava “referência” homenagear terroristas, assassinos e criminosos. Podem ser qualquer coisa, menos heróis. Ao menos, para uma maioria, não.
Crimes e seus autores devem ser julgados e punidos perante a lei. Mas não pode ocorrer distorção a respeito da conduta de pessoas, motivação e, menos ainda o uso de uma mentira para justificar depredação e outros crimes.
Sim, o racismo é um problema e deve ser combatido. Sabiamente o Sr. Sérgio Camargo demonstrou que existem vários seres humanos que merecem ser lembrados por seus legados e exemplos. Brevemente irá inserir outros, como policiais que deram suas vidas para que outros pudessem viver em segurança. Isso sim representa o que há de melhor. Não aclamar terroristas ou mentir a respeito da motivação de atos. À Fundação Cultural Palmares e seu presidente, Sr. Sérgio, meu respeito e admiração.
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