Se não é do ramo, não se meta!
As crises existem, e sempre existirão!
O episódio ocorrido na ponte Rio-Niterói, RJ, na última terça-feira (20), demonstrou nitidamente o que já sabemos de há muito.
O que mudou da famosa e trágica ocorrência do ônibus 174 para essa em questão? São necessárias algumas considerações.
É possível — e provável — que em 19 anos alguns aspectos técnicos e táticos tenham tido alguma alteração, alguma evolução.
É possível que os equipamentos de proteção individual, os apetrechos eletrônicos, as armas tenham evoluído.
Uma tropa de assalto, como o BOPE (RJ) ou o GATE (SP), possui muitas peculiaridades. Entre elas, certamente estão os apetrechos já citados, mas também o preparo profissional de seus integrantes.
Esses militares são policiais como os demais das instituições a que pertencem, mas se diferenciam na especialidade de seu emprego, na perfeição resultante de extenuante treinamento físico e psicológico. Vejamos:
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Um negociador é praticamente um psicólogo, deve entrar na mente do tomador de refém, deve identificar seu perfil e prever suas possíveis ações. Trata-se de uma tarefa de alta complexidade.
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Um sniper (atirador de elite) passa horas e horas efetuando disparos até alcançar a perfeição. Ele treina seu organismo para que seu batimento cardíaco caia pela metade. Seu poder de concentração deve ser extremo e sua ação deve ser impecável, pois dela resultam vidas salvas ou não.
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Um policial do grupo de assalto deve possuir excelente preparo físico para suportar o peso dos equipamentos por horas, se necessário, e agir imediatamente ao receber o comando. Deve atirar bem, escalar, rastejar, transpor obstáculos, tudo com extrema disciplina, pois o grupo funciona como um relógio, em que cada membro é uma engrenagem de um mecanismo complexo.
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O comandante da equipe é tão técnico quanto os demais, mas sobre ele recai ainda o peso da tomada de decisões diante do cenário apresentado.
Quando a população observa o teatro de operações em uma crise, tem logo a resposta “ideal” para a solução do problema: “mete bala no vagabundo!”
Porém, no mundo ideal, as respostas não são tão simples.
Numa ocorrência dessa natureza, em que o causador da crise toma vítimas como reféns, existem as chamadas alternativas táticas:
– Negociação: alternativa sempre mais desejada por oferecer, em tese, um desfecho menos traumático. Ela pode ser de convencimento, visando à rendição do causador da crise, ou tática, para distraí-lo e possibilitar alternativa tática mais contundente.
– Emprego de técnicas menos letais: aqui podemos mencionar equipamentos, armas, munições e tecnologias menos letais.
– Tiro de comprometimento: é o tiro praticado pelo sniper, visando à neutralização do agressor.
– Invasão tática: É quando o grupo de assalto adentra o local em que se encontra o causador da crise e os reféns. É sempre a última alternativa por ser a mais perigosa para os reféns, os policiais e o próprio agressor.
Pois bem, diante dessas informações, parece muito simples seguir o manual, resgatar as vítimas e prender ou neutralizar o tomador de reféns…
Apenas parece.
Voltando à nossa pergunta inicial, o que mudou da ocorrência de 2000 para a desta semana?
A tropa talvez tenha evoluído nos diversos aspectos já mencionados, o equipamento e o armamento certamente são outros e a experiência pode ter maturado esses profissionais.
Em 2000, percebeu-se uma desorganização no cenário, não havia muita obediência à doutrina. Víamos o comandante sem colete balístico negociando com o sequestrador, a imprensa muito próxima do epicentro da crise, a população em cima…
Um aspecto, entretanto, pode ter sido crucial para a diferença nos desfechos: o fator político. Os relatos são de que houve influência externa, ligações telefônicas, interferências indevidas.
A Polícia teve diversas oportunidades para o tiro de comprometimento, mas não o fez. Por quê?
E qual foi o resultado? Tragédia.
Já a ocorrência na ponte foi bastante diferente. Houve um perímetro de segurança, mantendo distantes a imprensa e a população, por razões óbvias. Havia viaturas de resgate prontas para eventuais vítimas e autobombas em caso de incêndio.
Os policiais estavam posicionados em segurança, seguiu-se a negociação e, diante do perfil do sequestrador (emocionalmente perturbado) e da oportunidade, optou-se pelo tiro de comprometimento.
O sequestrador foi neutralizado, as vítimas foram salvas, os policiais saíram ilesos.
Cem por cento correta a ação.
A maior prova de que não há reparos a se fazerem é que ninguém (nem mesmo a esquerda) ousou criticar.
Mesmo em São Paulo, que possui uma tropa de ações táticas antiga, o GATE, já houve episódios em que não se observaram os protocolos. Aqui, como no Rio, o fator desestabilizador foi o político.
O caso mais memorável e mais trágico foi o de Santo André. Na ocasião, outubro de 2008, Lindemberg Alves Fernandes (22 anos) manteve sob cárcere privado Eloá Pimentel e Nayara Rodrigues (ambas com 15 anos). A ocorrência durou cinco dias.
Os policiais já haviam percebido a impossibilidade de demover o criminoso de suas intenções, pois não havia exigências. Tratava-se de um namoro rompido. As negociações se estenderam. Houve oportunidades para o tiro de comprometimento, e nada, porque essa alternativa estava “proibida”. O desfecho? Uma jovem morta, a outra baleada no rosto, e o agressor preso. O Estado foi condenado a indenizar Nayara em R$ 150 mil por danos morais, materiais e estéticos.
A análise serena desses eventos nos mostra que uma crise deve ser sempre gerenciada por profissionais capacitados e experimentados. Não é para aventureiros. Sua eclosão nunca é desejada, mas, uma vez ocorrendo, deve ser tratada de acordo com princípios exclusivamente técnicos, jamais políticos.
Boa noite!Ele:o CMNDNTE.JÁ disse tudo.
NÃO É A TOA QUE É MAJOR.
PARABÉNS!!! MEU RESPEITO E MINHA ADMIRAÇÃO.
Bom dia, meu irmão.
É sempre bom lembrar aos governantes o seu lugar, que certamente não é no gerenciamento de uma crise dessa natureza.
Obrigado pelo apoio.
Boa semana!