Os assassinatos da vereadora Marielle Franco e do seu motorista, Anderson Pedro Gomes, colocaram os holofotes novamente sobre o Rio de Janeiro, sobre a intervenção federal, sobre a legitimidade das autoridades, do poder constituído.
É muito grave quando uma representante pública sofre um atentado como esse, evidenciando uma afronta ao Estado democrático de direito.
É nesse sentido também as declarações das personalidades que se pronunciaram sobre o fato. Os discursos partiram de políticos, de ministros do Supremo Tribunal Federal, da procuradora-geral da República, de artistas, entre outros. Mesmo no exterior, tivemos posicionamentos de consternação. Podemos citar ONU, Anistia Internacional, Human Rights Watch, Black Lives Matter.
As mídias todas estão repercutindo amplamente o crime, a comoção, as manifestações nos estados brasileiros, a investigação e tudo mais que se relacione a esse triste episódio.
Entendemos a repercussão e, sim, concordamos que se trata de um crime contra a sociedade, contra o sistema representativo por meio do processo eleitoral, contra a democracia.
Por mais que possamos discordar de muitas das ideias de Marielle, e discordamos, democraticamente, não podemos nos negar o repúdio a essa afronta ao poder público, afinal não é legítimo metralhar quem pense diferente de nós, isso seria barbárie, anomia, algo que não podemos defender.
Dito isso, é necessário perguntar: por que essa consternação geral, legítima, não se faz presente em outros momentos, quando outras são as vítimas?
A imprensa, os comentaristas têm dito que todos os homicídios são abomináveis, mas que, nesse caso, além das vidas que se perderam, existe o atentado ao Estado, à democracia, a todos os eleitores de Marielle.
É verdade, tem esse aspecto de um crime com simbologia clara de enfrentamento, mas é somente agora que o Estado é desafiado? E os agentes de segurança desse mesmo Estado, não o representam também? Quando morre um policial, não morre um pedaço da cidadania também, não é um guardião da Lei que tomba, um representante da sociedade?
Centenas de policiais, militares em especial, morrem todos os anos. Só no Rio de Janeiro, em 2017, foram 134. Em 2018, até a conclusão deste artigo, já são 27. Por que será que essas mortes não provocam indignação na sociedade, na mídia, nas autoridades, nos organismos internacionais? O fato é que o triste fim dessa vereadora e de seu motorista, muito além da tragédia, é o combustível para interesses espúrios de pessoas inescrupulosas que se valem da oportunidade para temperar com sangue discursos oportunistas e capitalizar politicamente.
Marielle não morreu por ser uma vereadora, mãe, negra, da periferia, defensora de minorias. Esse componente ideológico é muito mais fértil em comentários de especialistas do que na cabeça de assassinos. Outras mães morrem diariamente, outras negras, pobres, da periferia. Entre os policiais militares mortos naquele estado, temos mulheres nas mesmas condições, mas elas não eram políticas, representantes de minorias, militantes esquerdistas… Não. Elas apenas morreram porque estavam na profissão que mais mata e, pelo que parece, menos importa.
Marielle e Anderson morreram porque ela incomodou bandidos, sejam eles civis, militares, milicianos, políticos, ricos, pobres, mas, fundamentalmente, bandidos; bandidos da mesma estirpe daqueles que seu partido, PSOL, e outros do mesmo matiz, infelizmente, defendem com frequência. Marielle e Anderson morreram porque o banditismo não teme o sistema legal, porque os homicídios não são esclarecidos (em torno de 6% é a média brasileira), ou seja, porque a impunidade reina no país, sobretudo no Rio.
Senhor presidente da República, senhores ministros do STF, PGR, OAB, ONU, Anistia Internacional, Human Rights Watch, Black Lives Matter e demais indignados como nós, esperamos eficiência na apuração, na prisão e na condenação dos assassinos da Marielle, do Anderson, e dos policiais, dos professores, dos empresários, dos pedreiros, bancários, médicos e tantos outros que perdem suas vidas em solo brasileiro, todos os dias, silenciosamente.
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