Bem-vindos, militares!

A situação inusitada — do ponto de vista constitucional — que se observa hoje no Rio de Janeiro apresenta várias questões, muito debatidas ultimamente no espaço midiático, mas nos detenhamos no essencial: como a população enxerga a intervenção federal?

Muito se discutiu sobre o papel das Forças Armadas, sobre a competência legal, o poder de polícia conferido em operações de garantia da lei e da ordem (GLO), mandados coletivos de busca e apreensão, identificação de moradores, revistas e outras alegadas violações de direitos constitucionais.

Setores alinhados ao pensamento de esquerda taxaram imediatamente o evento como intervenção militar, objetivando, como tem sido a praxe, construir uma narrativa que deslegitime tudo que vá de encontro a seus postulados ideológicos.

 A imprensa, que se diga, cumpre seu papel de informar à população, não obstante eventuais distorções, acidentais ou não. Especialistas e “especialistas” esmiúçam teorias, estudos de caso, projeção de cenários e até profetizam.

Podemos conjecturar se o militar federal possui ou não o cacoete necessário para o patrulhamento em áreas urbanas, o chamado tirocínio, ou seja, o olhar acurado para as irregularidades cotidianas. É muito provável mesmo que não possua, e é muito salutar até que assim o seja, porque não é exatamente a isso que se destina sua formação.

É razoável também que se tenha dúvidas quanto à eventual motivação política para esse emprego militar no atual momento, à nomeação de militares em postos-chave durante o processo de intervenção, sabendo-se do quanto têm sido estigmatizados ao longo destes anos.

Mas cá estamos e o tempo é agora. Em meio a esse tiroteio de informações, encontra-se o cidadão, aquele que só costuma se manifestar de tempos em tempos; mais precisamente, a cada dois anos.

Chamada a opinar, por meio de pesquisas, a população deu seu recado. Mais de 80% dos entrevistados se disseram a favor da intervenção federal com o emprego das Forças Armadas.

Assim, de um lado, temos o mundo idealizado por pacifistas, ativistas de direitos humanos, teólogos da libertação, artistas, especialistas e congêneres. De outro, temos áreas vulneráveis sob total domínio de traficantes e milicianos. Entre a utopia e a distopia, as vítimas: crianças, idosos, pais, mães, trabalhadores… gente tentando viver, sobreviver, como der, entre guerras de facções, sob fogo cerrado, balas perdidas…

Entre a abordagem do militar e a do traficante, entre a busca domiciliar oficial e a invasão do criminoso, entre a presença de soldados fardados e a de bandidos de bermuda e fuzil, talvez o cidadão de bem já tenha feito sua opção: o Estado.

Enfim, que o trabalho conjunto gere resultados e que Polícias e Forças Armadas não busquem protagonismo, mas bons frutos para a sociedade.

Que os recursos sejam aplicados com responsabilidade e que a Inteligência seja o cerne das operações.

Que não falte coragem para mexer em feridas, que o Estado não se apequene.

Que seja apenas o princípio de um processo de mudança, duradouro.

Se o remédio for amargo, que seja eficiente, e há de ser.

Sim, sejam bem-vindos, militares!