Como a PM de São Paulo chegou a esse ponto?
Há algumas décadas, não éramos a Polícia Militar mais bem paga, mas éramos uma referência de doutrina, especialização e experiência operacional às demais. Nosso salário, quando comparado ao de outras Polícias era intermediário.
Um partido assumiu o governo e inseriu sua sanha em diversas áreas, inclusive na Polícia. Devagar vimos outros Estados (e Polícias) assumindo outros patamares. Mas ainda, a Polícia de São Paulo era uma referência em muitos aspectos.
UM DIA sugeriram que, já que nosso salário era baixo, nossos policiais vendessem suas folgas para as Prefeituras. MAS ERA SÓ PARA QUEM DESEJASSE. Até oficiais aplaudiram. E muitos foram por necessidade. Quem alertou contra, foi execrado. O salário não precisaria ser reajustado.
Algumas pessoas conseguiram cargos políticos por isso. Policiais de outros Estados e instituições já alertavam: “- A PM de São Paulo será a mais mal paga do país”. Esse era SÓ UM dos alertas, fora outros menos simpáticos, mas igualmente precisos.
Logo após, perdemos a paridade com a Polícia Civil. De fato, muitos foram promovidos a Cabo. Sargentos (lembrando que quase todo Policial Militar aposenta no mínimo como 3º Sargento) e oficiais foram prejudicados. Mas, tudo bem, não? A necessidade fala mais alto no presente que no futuro. Perdida a paridade, alguns foram para cargos políticos. Visão de futuro. Mas só para alguns.
Com o “voluntariado” e incentivo (tinha até trabalho de convencimento para adesão de prefeitos do interior, ao modelo “atividade delegada”), surgiu a idéia de fazer o mesmo no Estado, a tal DEJEM. Mas era SÓ PARA QUEM DESEJASSE, tipo voluntariado. Os salários? Baixos. Anos de trabalho sério das Polícias e os índices criminais de São Paulo se tornaram os melhores do país.
O partido usou isso como se fosse obra sua, não de quem vive e morre combatendo o crime. Então estava tudo certo na gestão política da “melhor Polícia do país”. O importante era continuar assim e dar opções de “voluntariado”. Valorização eram diploma, medalha e “café”.
Surgiu o “bônus”. Alegria de quem está na ativa. Um “troco” a mais. Mas não para todos. Menos ainda para os da reserva. Solenidade, medalha, cartaz para valorizar veterano em quartel não pagam as contas dele. Pensar como um “corpo só”, em todos os policiais, seria mais prático. Mas isso não ocorreu e não ocorre.
Em breve, surgirão idéias como recontratar aposentado ou, até quem sabe, policiais que se tornaram pessoas com deficiência. Mas será somente para quem “o desejar”. Voluntariado. E se o policial não achar justo? Se estiver doente ou acamado? Será relegado a miséria.
Hoje, alguém que ingressar na PM de São Paulo (e existem cursinhos, muitos, que preparam inclusive para o exame psicotécnico… o que dá para pensar sobre), SAIBA que, esse CÍRCULO VICIOSO está se propagando. Ganhará pouco, mas já iniciará a carreira aprendendo que venderá todas as folgas, como “voluntário”.
Quando (e se) aposentar com sanidade, também talvez tenha a opção de vender a aposentadoria. Viverá eternamente, ATÉ MORRER, trabalhando. Família, estresse, doença ou reconhecimento não estão na pauta do governo ou imediatistas. Nem as viúvas e órfãos de policiais.
Por qual motivo quase todas Polícias Militares ganham mais? Algumas conseguiram paridade com a Polícia Civil (nós a demos), a maioria exige curso superior para ingresso de seus oficiais e a tendência também é para os soldados (com isso, o salário se torna também maior para os da ativa, refletindo em quem já se encontra na carreira e nos da reserva).
Por qual motivo o Curso Superior de Polícia têm o menor índice de candidato / vaga da história? Por qual motivo muitos políticos nos enxergam e tratam como mera mão de obra, mais ainda, o pior de todos, João Agripino Dória? Por qual motivo os índices de suicídio aumentaram entre policiais?