As classes policiais de SP devem ficar muito atentas ao cenário que se esboça logo adiante.
As polícias paulistas têm legado ao estado os melhores indicadores criminais do país. Os homicídios, por exemplo, em 2018, ficaram na marca de 9,5 por 100 mil habitantes. A média nacional foi de 27,5. O estado de Roraima, o mais violento, registrou 66,6.
Apesar dos números de primeiro mundo (fruto da dedicação exaustiva dos profissionais de segurança) e do reconhecimento da população, inexiste a valorização por parte dos governantes que se sucedem no Palácio dos Bandeirantes.
O PSDB governa o estado desde 1º de janeiro 1995. A partir de então, o que se viu por aqui foi uma constante depreciação das forças policiais.
Já se tentou descaracterizar o modelo de organização das instituições, suprimindo categorias, desmanchando serviços, vilipendiando tradições e destruindo o que funcionava.
A cada nova gestão, uma nova identidade visual das unidades, das vestimentas, das viaturas. Todos parecem se importar com a mudança da imagem, todos querem aparentar uma polícia mais humana, mais sensível e o que conseguem é atacar a autoestima dos policiais.
Ano após ano, policiais vêm sendo punidos por se envolverem em ocorrências com o resultado morte. Após colocarem suas vidas em risco para defenderem a sociedade, os agentes do Estado são encaminhados para psicólogos, são afastados do serviço operacional, são submetidos a ciclos intermináveis de palestras, sofrem mudança de horário (sendo impedidos de atuar em atividade extra, o que lhes permite complementar seus vencimentos), são transferidos para longe de casa e são empenhados em policiamento a pé em escalas humilhantes. A desculpa oficial é de que estão sendo “preservados psicologicamente”.
Policiais atuam em jornadas desumanas (sujeitas a horas adicionais em casos de flagrantes), em condições insalubres, sem armamento de ponta, sem equipamentos de proteção adequados ou veículos seguros.
Apesar de tudo, nossos heróis trabalham, arriscam-se, enfrentam o crime, fazem o que ninguém com algum juízo faria e muitas vezes entregam suas vidas, porque o juraram. É assim com os policiais de hoje, era assim com os policiais de ontem.
O que costumava restar aos abnegados que se entregam a essa vida de incertezas, de insalubridade e de perigo extremo e constante era a possibilidade de, vencido seu período de serviço ativo, permanecerem no mesmo padrão de vencimentos que os irmãos da ativa. Era…
Na semana passada, o governador João Doria esteve na Assembleia Legislativa de São Paulo. Ao ser questionado a respeito da paridade salarial entre ativos, veteranos e pensionistas, disse que verificaria de que forma isso impactaria o orçamento, dando a entender que não descartava a ideia de promover reajuste diferenciado para os policiais da ativa.
Nesta semana, em evento na cidade de Araras, entre sorrisos e rapapés, foi abordado por um veterano que lhe perguntou se estaria disposto a fazer essa “maldade com a família policial”. A resposta foi um sorriso sem graça, uma baixada de cabeça e a saída pela esquerda.
Ontem circulou conteúdo em redes sociais com um suposto planejamento de aumento diferenciado para policiais da ativa em detrimento de veteranos e pensionistas. O líder do governo na Assembleia Legislativa adiantou-se em dizer que se tratava de mentira.
Ou seja, em síntese, temos todas as razões para desconfiar do PSDB quando se trata de reconhecimento e valorização das instituições de segurança pública de São Paulo. A História nos mostra que essa relação não é digna de confiança. E é justa a alcunha dada pelo senador Major Olímpio a governantes tucanos: algozes das polícias.
No caso do Sr. Doria, a preocupação é redobrada, pois já é sedimentada sua imagem de oportunista e de alérgico à verdade. Vejamos:
– Em 1989, ao se aproximar de Jô Soares, deu-lhe um efusivo abraço (mesmo não privando de intimidade para tal), pregou-lhe um adesivo de campanha nas costas e saiu andando. Esse relato foi feito pelo próprio apresentador. (Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=H34Tcvpdk4Y )
– Ao assumir a prefeitura de São Paulo, afirmou que seria prefeito por quatro anos, inclusive assinando carta de compromisso. Não cumpriu. Lançou-se candidato a governador e flertou com a ideia de tentar a Presidência da República, mas recuou.
– Ainda como prefeito, disse gostar de Fernando Haddad e ter uma relação bastante respeitosa com seu antecessor. Já no ano passado, chamou-o de fantoche.
– Chamou Márcio França de “liderança extraordinária” quando recebeu seu apoio na campanha à Prefeitura. Já na campanha ao governo do estado, chamou-o de esquerdista, de Márcio Cuba.
– Criticou o então candidato Jair Bolsonaro e disse que não aceitaria seu apoio, no primeiro turno. No segundo turno, percebendo seu favoritismo, entabulou o mote “BOLSODORIA” e proclamou alinhamento político. Já no cargo, começou a minar a imagem do Presidente e a promover ataques contra suas falas.
– Durante campanha a governador, disse que as polícias de SP estariam em segundo lugar em termos salariais no Brasil, ficando atrás apenas do Distrito Federal. Disse que o aumento seria ao longo dos quatro anos, começando no início do ano (2019). Foram-se oito meses no cargo e só temos até agora a promessa de “anúncio” do aumento para 31 de outubro.
– Prometeu as melhores armas, viaturas blindadas, equipamentos de ponta, fim de afastamentos de policiais envolvidos em ocorrências, e por aí vai. Até o momento, o que temos são viaturas com cara de ambulância e bicicletas elétricas.
E assim restam legítimos receios…
Devemos nutrir alguma esperança por dias melhores?
Devemos imaginar que paridade e integralidade serão respeitadas?
Devemos acreditar nesse senhor, capaz de jogar bola e comer pizza com cupinchas políticos no mesmo dia em que se vela um policial militar fuzilado em frente de casa?
Se sua resposta for sim, bons sonhos.
Se for não, esteja conosco na Praça da Sé em 27 de setembro, às 15 horas.
Seremos milhares de policiais militares, civis, técnico-científicos, agentes da Secretaria de Assuntos Penitenciários, da Fundação Casa, familiares, amigos, irmãos.
Gritaremos a plenos pulmões que São Paulo não merece um imperador ditando a destruição de suas forças policiais.
Compareçamos para lutar contra essa sordidez que se insinua nos movimentos de um gestor da maldade.
“O homem que não luta pelos seus direitos não merece viver.” (Rui Barbosa)