O recado do Comandante
“Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?”
O texto acima não tem nada de mais e, sem nenhuma dúvida, faz parte do pensamento dominante entre os brasileiros. O único detalhe realmente significativo é quem o produziu: general Eduardo Villas Bôas, Comandante do Exército Brasileiro.
O general usou a rede social Twitter para divulgá-lo e acrescentou:
“Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais.”
Outros três generais da ativa e alguns da reserva fizeram coro.
Essa situação sobressaltou diversos setores. Políticos, membros do Judiciário, a Imprensa, os acadêmicos, entre outros, emitiram posicionamentos de preocupação porque, além de o general Villas Bôas ser sempre muito discreto em suas declarações públicas, reafirmando o papel constitucional das Forças Armadas, o episódio se deu na véspera do julgamento do habeas corpus do ex-Presidente Lula.
O posicionamento do nosso comandante suscita especulações, e uma coisa é certa: não foi acidental.
No momento em que a operação Lava Jato está investigando, processando e condenando grandes executivos e políticos poderosos, percebemos o movimento contrário, uma insinuação de acordo entre instituições. Hoje temos atrás das grades empreiteiros bilionários, deputados, prefeitos, governadores e, até, um ex-Presidente da República. Não é pouca coisa num país como o Brasil, historicamente associado à impunidade.
O povo brasileiro, outrora acostumado com desmandos, começa a adquirir outra percepção da realidade, a sonhar com justiça para todos. Parece-nos muito difícil imaginar que aceite passivamente um retrocesso.
No fim de semana passado, assistimos ao deboche de um condenado diante de sua iminente prisão. Na esteira de suas sandices, Lula atacou a Polícia Federal, o Ministério Público, a Justiça (especialmente o juiz Sérgio Moro) e a Imprensa. Por fim, pregou a desobediência civil, a invasão de propriedade, o fechamento de rodovias e demais ações terroristas por “movimentos sociais”.
A defesa do ex-Presidente continua apresentando recursos infindáveis e protelatórios, visando à soltura de seu cliente. De outra banda, um grupo de ministros do STF insiste em rever o entendimento da jurisprudência que autoriza a prisão de condenados em 2ª instância, algo inexistente nas democracias mundo afora e totalmente repudiado pela opinião pública.
Confiamos em nossas Forças Armadas e em sua obediência à Constituição. Confiamos em nosso Comandante Villas Bôas e sabemos que ele, assim como todos os brasileiros de bem, deseja o melhor para nossa pátria, dentro de um estado democrático de direito.
O que se espera das autoridades brasileiras é que não subestimem o povo brasileiro, comandante máximo de todas as instituições, incluindo as militares. Não se pode dar-lhe as costas para governar, legislar e julgar. A isso chamamos democracia.
O que o Comandante quis dizer, e para quem, deixamos para os analistas do ramo, mas nos socorremos de uma frase de Thomas Jefferson para conjecturar:
“O preço da liberdade é a eterna vigilância.”