Perigo à vista
Esta semana foi marcada por ações que denotam uma beligerância latente no espírito de alguns brasileiros.
No episódio mais grave, foram disparados tiros contra a caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando percorria o estado do Paraná. Dois ônibus foram atingidos. Ninguém foi ferido.
Também no decorrer da semana, em entrevista, o ministro Luiz Edson Fachin informou que sua família vem recebendo ameaças. Como sabemos, Fachin é relator da operação Lava Jato no STF, função assumida após a morte de Teori Zavascki, em 2017.
Merecem ainda registro as hostilidades empreendidas, mais uma vez, contra o ministro Gilmar Mendes. Ele se encontrava no Chiado, um bairro de Lisboa, Portugal, quando foi interpelado e filmado.
Esses eventos, que podem provocar indignação em alguns e satisfação em outros, na verdade, desnudam algo muito mais sério com que devemos nos preocupar.
A divisão político-ideológica que aflorou nos últimos anos no Brasil precisa ser compreendida em sua real dimensão.
Quaisquer sejam os detalhes factuais relacionados aos casos citados, bem como suas motivações, é necessário que as instituições se façam respeitar, o que, há tempos, não vem ocorrendo.
O brasileiro tem andado mais e mais desconfiado e — por que não? — descrente da condução de nosso país, dos rumos da política, da Justiça.
Lembremos a fatídica sessão do STF destinada a julgar o habeas corpus de Lula. Tratamos disso na semana passada em artigo publicado no blog. Na ocasião, nada foi definido e remarcou-se o julgamento para depois da Páscoa. Até lá, o réu, condenado, permanece solto.
No intervalo entre uma e outra sessão, o ministro Gilmar Mendes viajou para a Europa a fim de tratar de assuntos que diziam respeito, exclusivamente, a sua pessoa.
Na esteira da insatisfação com a Justiça, entram as concessões de liberdade a criminosos poderosos, ricos, famosos, como os irmãos Wesley e Joesley, Eike Batista, Jacob Barata Filho, Adriana Ancelmo, Paulo Maluf (embora as questões de saúde) e outros tantos.
Os tiros contra a caravana estão sendo investigados. Podem ser ação isolada de um maluco destemperado ou um atentado meticulosamente planejado contra o grupo de apoiadores do ex-presidente, ou nem uma coisa nem outra. Podem ser uma grande farsa. Qualquer seja a verdade, ainda oculta, o fato é gravíssimo.
O ex-presidente tem tido diversas manifestações contrárias em seu périplo pelo Brasil. Para ele e os seus, os divergentes são intolerantes, extremistas, fascistoides. No Paraná, durante um discurso, sugeriu que a PM entrasse num imóvel privado para pegar o “canalha” que arremessava ovos e lhe aplicasse um “corretivo”.
Exortações à violência perpetradas por líderes de partidos de esquerda e de suas franjas ideológicas (MST, MTST, CUT e aparentados) são frequentes. Gleisi Hoffmann e Lindbergh Farias, por exemplo, têm proferido inflamados e perigosos discursos, seja em palanques ou na tribuna do Senado Federal. E mais… Em 2015, Lula, na sede da Associação Brasileira de Imprensa, falou em colocar o exército de Stédile nas ruas. No mesmo ano, no salão nobre do Palácio do Planalto, Vagner Freitas, presidente da CUT, pregou que se pegasse em armas e se entrincheirasse caso tentassem derrubar a então presidente Dilma Roussef, que aliás se fazia presente. A Polícia Civil do DF o indiciou, mas…
E assim segue o baile. Líderes políticos extremistas e quadrilhas travestidas de movimentos sociais vociferam contra o Estado de direito, e nada. Autoridades dos três poderes se calam, se amiúdam, quando deveriam zelar pela obediência aos preceitos republicanos.
Os excessos precisam ser coibidos; os crimes, investigados; os culpados, punidos. Condenados precisam cumprir pena, é assim no mundo todo. Se o entendimento constitucional precisa de ajustes, que se façam os ajustes, mas que todos sejam, de fato, iguais perante a Lei, e não uns mais iguais que outros, lembrando a Revolução dos Bichos, de George Orwell.
A ordem não se faz no vácuo.
Se o barco perder o rumo, será difícil retomá-lo sem extremos.
Cuidado, Excelências!
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